Tag Archives

davi

A raiz dos justos

janeiro 8, 2018 0 comentários

“O homem não se estabelece pela perversidade mas a raiz dos justos não será removida.” Provérbios 12: 3

Em um mundo tão materialista um dos desafios do peregrino celestial é permanecer firme em suas crenças como que “vendo o que é invisível.” Quando olhamos para uma árvore frondosa cheia de frutos, geralmente nos esquecemos que são as suas raízes que garantem sua fixação e estabilidade, e, principalmente, a absorção dos nutrientes, água e potássio que irão garantir sua beleza. Geralmente escondidas debaixo da terra é a raiz, e não os frutos, que garantem a vida.

Da mesma forma, as bases da nossa vida determinarão quais serão as fontes de onde tiraremos nossa energia vital. É através das nossas raízes que obteremos a seiva necessária para a sobrevivência. Na parábola do semeador, o Senhor Jesus usa a figura de um solo rochoso cuja a raiz não pode se aprofundar para nos alertar dos perigos do desânimo diante das perseguições e escândalos. Sem uma raiz firme, não haverá frutos sadios porém: “ser for santa a raiz também os ramos o serão” (Rm 11:16).

Mais uma vez a história de Davi se destaca em meus pensamentos. Como foi possível a Davi suportar tamanha pressão e opressão durante seus anos como um fugitivo do insano rei de Israel? Para escapar da morte diante de um outro rei, agora filisteu, Davi se passa por doido babando em sua barba, arranhando portas e contorcendo suas mãos (I Sm 21:13). Sua popularidade aumentou com as pessoas menos desejadas do povo de maneira que Davi se fez chefe de “todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito” (I Sm 22:2).Quem olha para ele não poderia imaginar que uma “árvore tão seca e com nenhum fruto” poderia ter uma raiz tão forte. Davi encontrou em Deus sua fixação e seu local de absorver os nutrientes necessários para prosseguir. Até chegar o momento em que a primavera chegou e ele passou a dar muito fruto. Qual era o segredo de Davi? O próprio Senhor responde: “Eu, Jesus, sou a raiz de Davi” (Ap 22:16).

O imediatismo em que vivemos nos inclina a buscarmos atalhos para demonstrarmos para os outros frutos que nos faltam. Nossas raízes tentam se fixar em solos pobres das coisas profundas de Deus e, como conseqüência, temos muita folhagem mas pouco fruto do Espírito: “árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas” (Jd 13). Não experimentamos uma vida plena de comunhão fraternal uns com os outros porque tememos que descubram que, por detrás da nossa linda folhagem, não existem frutos. Selamos então um pacto de mediocridade recíproca aonde eu não critico suas raízes e vice-versa e nos contentamos com a fachada pseudo-piedosa que traz uma aparência religiosa para as nossas vidas porém nossas raízes continuam absorvendo as coisas do inferno, da carne e do mundo. “vendo Jesus uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti” (MT 21:19).

João Batista advertia ao povo: “Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mt 3:10). Toda raiz profana será cortada pelo próprio Senhor Jesus. Entendermos hoje que “o amor do dinheiro é a raiz de todos os males” (I Tm 6:10) será um bálsamo para todos os peregrinos que anelam experimentar uma vida liberta do veneno mortal da vaidade e das ambições humanas. Abandonemos a perversidade e estendamos nossas raízes para os mananciais de vida de Deus sabedores de que, a raiz dos justos, jamais poderá ser removida.

“Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde, e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto.” Jeremias 17:7,8

Contextos

maio 5, 2010 0 comentários

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Hebreus 4:12

Muitas e muitas vezes tenho visto pessoas ao meu redor sendo orientadas pelo contexto que vivem: “vou tentar entrar sem visto se eu conseguir passar pela alfândega foi porque é da vontade de Deus pra mim” ou “recebi uma proposta de emprego irrecusável para trabalhar em outra cidade, não acredito que Deus permitiria uma oportunidade dessa na minha vida se não fosse da Sua vontade” ou ainda “foi amor à primeira vista, tudo deu certo para que ficássemos juntos isso só pode ser de Deus.” Poderia listar tantas outras situações ordinárias que nos dão a impressão que as “portas se abriram” e, então, concluímos apressadamente que vem de Deus.

As escrituras nos dão alguns exemplos de que não devemos confiar no contexto ou até mesmo em profetas que fazem sinais e prodígios porém ensinam falsas doutrinas. Em Deuteronômio 13:1- 4 o próprio Senhor nos alerta da possibilidade Dele permitir a atuação e a confirmação de sinais de falsos profetas para nos “provar, para saber se amais ao Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma” (vs 3). Definitivamente não devemos estribar nossas decisões nas circunstâncias: “o justo viverá pela fé” de maneira que a bússola que orientará as suas decisões deve ser os princípios e os valores explicitados na Bíblia e não em qualquer outra pessoa ou situação.

Para mim, o maior exemplo de como o contexto pode ser enganoso, nos é relatado em I Samuel 24. O rei Saul, movido por um ciúme maligno, realizou várias tentativas de matar a Davi (o futuro rei de Israel já ungido e designado pelo Senhor). Em uma de suas campanhas contra Davi, Saul entra em uma caverna para “aliviar o ventre” sem saber que o próprio Davi e seu exército estão escondidos no interior da caverna. Ao verem Saul se despindo da sua armadura e dos seus trajes de guerra a conclusão dos homens de Davi parece ser a mais óbvia: “então os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia, do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo e far-lhe-á o que bem te parecer” (vs 4). Finalmente havia chegado o dia da vingança! Após tantas traições e tentativas de homicídio finalmente se cumpriria as promessas de Deus! Porém essa não foi a conclusão de Davi. Ele já conhecia o suficiente ao Seu Senhor para saber qual era a Sua vontade: “disse Davi aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu Senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor. Com estas palavras Davi conteve os seus homens e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul” (vs 6,7). Que homem foi Davi! Apesar de ter sido um grande herói de guerra capaz de lutar destemidamente ele não levantou a sua espada contra aquele que por quase dez anos tentou tirar a sua vida. Não tenho dúvidas de que, naquela caverna, Deus testou a fé de Davi. O Senhor preparou todo um cenário favorável para que Davi matasse a Saul. Davi foi provado e optou pela obediência a despeito do contexto. Seu coração cada vez mais pertencia a Deus. O período de preparação estava terminando e, em breve, Davi se tornaria no maior rei da história de Israel.

Tento me colocar naquela caverna escura e úmida. Qual seria a minha conclusão se eu estivesse ali? Agiria como um dos homens de Davi julgando que a situação vinha do Senhor? Discerniria adequadamente o cenário? Quanto mais conhecermos a palavra de Deus mais capacitados estaremos para distinguir os contextos. Porque a palavra de Deus não muda. Seus princípios são eternos e servem de âncora para nossa fé. Não devemos confiar em nossos “achismos”, sentimentos ou circunstâncias. Apenas a Palavra de Deus é capaz de lançar luz aos pensamentos e propósitos do coração.

Às vezes chegamos em um oásis e acreditamos que “é de Deus” outras vezes rejeitamos o deserto acreditando que Deus nunca nos levaria vivenciar experiências tão desafiadoras. Não devemos ser tão rápidos em nos mover. Porque melhor nos será estarmos no deserto com Deus do que no oásis com o diabo. Melhor é a caverna com Deus do que todo um reino sem Ele.

“o Senhor teu Deus te guiou no deserto para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no seu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.” (Dt 8:2)

A sindrome de Aitofel

junho 1, 2006 0 comentários

Há pouco tempo atrás, chamou-me muito a atenção a breve história de um conselheiro real da época de Davi chamado Aitofel (II Samuel 16:15 – 17: 23). Analisando seus sinais, características e reações percebi que muitos de nós também sofremos do mesmo padrão de comportamento. Em homenagem ao nosso personagem, batizei esse mal de Síndrome de Aitofel. Vejamos as características dessa síndrome:

Discernimento avantajado. A primeira característica que percebi foi que essa pessoa possui um discernimento muito acima da média. Aitofel era o conselheiro do Rei Davi e após a rebelião de Absalão tornou-se conselheiro do novo rei (II Samuel 16:20,23). Um bom conselheiro consegue perceber situações que os outros não conseguem. Assim como a coruja, enxerga na escuridão e, por isso, é tido por sábio entre os demais.

Conhecimento bíblico. Outra característica dessa pessoa é que, pelo fato de ter um conhecimento maior das escrituras o seu conselho geralmente é recebido como se fosse uma instrução direta de Deus. “O conselho que Aitofel dava naqueles dias era como resposta de Deus a uma consulta” (II Sm 16:23). Com isso grande respeito e autoridade Aitofel conquistou no meio do povo.

Orgulho Espiritual. Porém, essa síndrome traz uma característica mortal; o orgulho. Aitofel não suportou quando o rei preferiu o conselho de Husai ao seu conselho. Ele se sentiu tão humilhado que se enforcou! (II Sm 17:23). Somente uma pessoa com tamanho orgulho poderia chegar a tal extremo. Naquele momento, era Aitofel que necessitava receber conselhos. O orgulho de Aitofel cegou seu entendimento e o impossibilitou de perceber a ação de Deus uma vez que Bíblia nos diz que foi o próprio Senhor que fez dissipar o bom conselho de Aitofel (II Sm 17:14). Essa síndrome produz esse estranho paradoxo: conseguimos enxergar muito bem para os outros sem dar-mos conta que estamos cegos.

Talvez essa história de Aitofel tenha me chamado tanta a atenção porque me identifiquei com ele. Que vergonha reconhecer que tenho essa síndrome latente dentro de minha alma. Tenho uma resistência interna em valorizar o conselho dos outros quando é oposta à minha opinião. Tenho dificuldade em apreciar ao meu próximo e considerar os outros superiores a mim mesmo (Fp 2:3). Infelizmente, também vejo ao meu redor muitas outras pessoas que possuem essa mesma síndrome. Assim como aconteceu com Aitofel, o efeito dela é mortal. Porque ela trabalha contra a paz, a alegria e o amor. A comunhão genuína e sadia desaparece dando lugar a amargura, desconfiança e divisão. A síndrome de Aitofel trabalha contra a vontade de Deus e impede o quebrantamento do cristão. Enquanto estamos sendo ouvidos e respeitados perdura uma delicada comunhão mútua. Mas quando somos confrontados ou ignorados tomamos atitudes estranhas que, muitas vezes, trazem morte.

O apostolo Paulo tinha todas as credenciais para desenvolver tal síndrome. Devido ao seu grande zelo e fervor era referência para os judeus e, após sua conversão, rapidamente tornou-se referência para os cristãos. Ele literalmente apanhou muito até ser curado. Ele diz: “para que não me ensoberbecesse foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (II Co 12:7). A palavra “esbofetear” significa “dar bofetada após bofetada”. Ao longo da historia de Paulo não tem como não perceber o quanto ele sofreu fisicamente: cinco vezes recebeu uma quarentena de açoites menos um, três vezes fustigado com varas, apedrejado e outros tantos infortúnios (II Co 11: 24-27). Paulo sentiu-se fraco. Sentiu-se impotente diante de tanto sofrimento, mas, ao invés de se enforcar ele correu para Deus. E, ao buscar a Deus descobriu que o poder se aperfeiçoa na fraqueza. Após o seu diagnóstico, a síndrome de Aitofel só pode ser curada pelo uso constante da abundante graça de Deus através da vida de Cristo.

Apesar de conhecer bem a teoria, tenho dificuldade de colocá-la em pratica. Quando sou “esbofeteado” tento me defender, quando sou desprezado me refugio na minha auto-compaixão. Perco a santa oportunidade de correr para Deus e encontrar n’Ele consolo e graça. Ao enxergarmos a soberana mão de Deus em todas as coisas iniciamos o nosso tratamento. Ao sermos esbofeteados, entramos no processo de cura. O sabor do remédio pode ser um pouco amargo, mas santifica a nossa alma e fortalece o nosso espírito.

“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injurias, nas necessidades, nas perseguições, nas angustias por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então é que sou forte.” (II Co 12:10)