Um só pão
“O solitário busca o próprio interesse, e insurge-se contra a verdadeira sabedoria.” Provérbios 18:1
“Deus faz que o solitário more em família.” Salmos 68:6
A solidão é uma das coisas que mais aflige o coração humano. A sensação de que a nossa vida está andando na direção contrária do mundo produz em nós insegurança e desânimo. Por outro lado, quando encontramos outras pessoas que compartilham dos mesmos idéias e pensamentos e nos encorajam a prosseguir, ficamos mais fortes do que de fato somos e avançamos. Falo isto porque neste último final de semana tive a oportunidade de conhecer e re-encontrar irmãos de outras cidades. Pude escutar experiências de perseguições, lutas, sofrimentos e vitórias. Mais uma vez percebi que não estou sozinho nesta jornada rumo à pátria celestial.
Dentro deste contexto, lembrei-me de Elias, poderoso profeta de Deus, que após uma incrível experiência no monte Carmelo (I Rs 18) aonde fez cair fogo do céu entrou em uma profunda crise e desânimo. Deus então o leva a um outro monte, Horebe, o monte de Deus (I Rs19:8). A desesperança de Elias talvez seja justificada pela sua solidão: “porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só”( I Rs 19:14) porém Deus, que conhece todas as coisas, corrige o pensamento de Elias e o encoraja: “conservei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal e toda boca que o não beijou” (I Rs 19:18). Elias descobriu que não era único. Viu que sete mil fiéis anônimos também estavam trilhando o mesmo caminho. Após esse encontro Elias recobrou suas forças e prosseguiu até o dia em que uma carruagem de fogo o levou para junto de Deus.
A Ceia do Senhor é uma divina ocasião em que podemos testemunhar o fim da solidão. O apóstolo Paulo diz: “Porventura o cálice da benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?: O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?” (I Co 10:16). Quando partimos o pão, lembramos da obra do nosso Salvador Jesus Cristo. Lembramos do seu corpo partido e do seu sangue derramado. Lembramos que uma das conseqüências dessa obra é a nossa comunhão com os que são da família de Deus. Quando partimos o pão não celebramos a solidão, ao contrário, celebramos e discernimos o corpo espiritual de Cristo aonde todos os redimidos tornaram-se um só corpo e membros uns dos outros.
Satanás sabe que um cristão isolado torna-se um alvo fácil para seus ataques e enganos. O isolamento produz a solidão que produz a auto-piedade que produz orgulho que produz mais isolamento. Devemos estar bem protegidos, cobrindo uns aos outros em oração e mútua cooperação. Dessa maneira estaremos vigilantes diante das tentativas do diabo e estaremos dando um testemunho coerente diante da Mesa do Senhor. Outrora éramos indivíduos, antes éramos grãos de uva e feixes de trigo. Agora, porém, somos inseparáveis e indissociáveis. Através da obra do calvário nos tornamos vinho e pão.
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.” I Pedro 5:8,9
Caçadores de Serpentes
“Não negligencieis igualmente a prática do bem e a mútua cooperação; pois com tais sacrifícios Deus se compraz.” Hebreus 13:16
Existe uma fábula que é mais ou menos assim:
Em uma fazenda, vivia um ratinho que em certo dia viu uma pequena serpente se esconder dentro do celeiro. Preocupado em não se tornar o almoço da serpente, o ratinho pediu ajuda aos outros animais: a galinha, o porco e a vaca. “Vocês precisam me ajudar! Uma serpente entrou no celeiro hoje de manhã e estou com medo de ser atacado por ela” – disse o ratinho reconhecendo seu triste lugar na cadeia alimentar. Apesar do sincero pedido de ajuda, os animais não se interessaram pela sua situação, cada um deu um bom motivo e todos voltaram aos seus afazeres.
No dia seguinte, a esposa do fazendeiro, foi ao celeiro e, enquanto mexia no feno foi picada pela serpente e ficou muito doente. O fazendeiro preocupado com a saúde de sua mulher matou a galinha e fez uma boa canja para reanimar sua amada esposa. Os familiares, ao saberem do ocorrido, foram fazer uma visita. O fazendeiro ao receber seus parentes, matou o porco e fez uma bela feijoada. Após duas semanas, vendo que sua esposa já estava bem de saúde, convidou toda a vizinhança, matou a vaca e fez um lindo churrasco para comemorar.
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A obra satânica se levanta contra tudo que é da vontade de Deus. Se o Senhor é contra a fornicação e o adultério, então satanás trabalhará ativamente produzindo na humanidade um desequilíbrio quase que animalesco por sexo. Se o Senhor deseja que tenhamos uma vida simples, satanás trará um ritmo e padrão de vida que nos tornará escravos do trabalho e das pressões do dia-a-dia. Com respeito à mútua cooperação não é diferente. A vontade do Senhor é que andemos juntos. Que levemos as cargas uns dos outros (Gl 6:2). Que confessemos os nossos pecados e oremos uns pelos outros para sermos curados (Tg 5:16). Ao longo das eras, existe uma obra maligna que tenta afastar-nos da vida coletiva que o Senhor planejou para seus servos. Quando fomos resgatados do império das trevas e transportados para o reino do Filho do Seu amor, descobrimos que não estamos mais sós. Assim como eu, milhares de milhares de outros pecadores encontraram salvação e proteção na família de Deus. Fomos batizados para dentro de um só corpo. Queiramos ou não, estamos unidos uns aos outros. O Senhor espera que ajudemos uns aos outros durante a nossa caminhada. Como mencionei anteriormente, satanás trabalha intensamente para afastar-nos de tudo que é legitimamente do Espírito. O cristianismo sem compromisso mútuo e egoísta talvez seja uma das maiores contradições do evangelho pregado atualmente.
Nestes dias de trevas, em que os homens, entre tantas outras coisas, se tornaram egoístas e desafeiçoados (II Tm 3:2-5) pensar no próximo tornou-se num grande desafio para minha vida. Deixar de só pensar em que posso receber para começar a pensar em que posso dar. Gastar meu tempo na cooperação, no trabalho e no desenvolvimento dos meus irmãos. Preocupar-me com suas preocupações. Importar-me com seus temores. Valorizá-los mais do que a mim mesmo. Chorar com os que choram e alegrar-me com os que se alegram (Rm 12:15).
Na minha vida cristã tenho experimentado a fidelidade do Senhor através de vários irmãos e irmãs que tem me ajudado a prosseguir. Tenho certeza que muitas orações já foram feitas a meu favor. Quando olho para trás, sei que muitos já se importaram em caçar as “serpentes” que me aterrorizavam.
Assim como na fábula, o problema hoje do meu irmão, poderá se tornar no meu problema amanhã. A falta de cooperação mútua permite o surgimento de serpentes que poderão, futuramente, inocular morte em muitos. Quando nos tornamos caçadores das serpentes que perturbam o bem-estar dos nossos irmãos garantimos também saúde espiritual para as nossas próprias vidas. Experimentaremos a benção do cristianismo genuíno: quanto mais eu der, mais receberei. Quanto mais eu esquecer de mim mesmo, mais serei lembrado. Quanto mais eu amar, mais serei amado.
“Quem é pois, o servo fiel e prudente a quem o Senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens” (Mt 24:45-47).