Inícios
Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre. Salmos 107:1
Finalmente chegou o dia muito especial para a minha família. Nosso filho, João, nasceu. Não imaginava que eu poderia amar dessa maneira. A sensação que eu tenho é que uma comporta se abriu dentro de mim de onde tem jorrado um amor incondicional, irrestrito, sacrificial e absolutamente puro para alguém que nunca me deu nada em troca ao não ser sua própria existência. E, por mais que ouvia da experiência dos outros, eu não estava preparado para isto.
Lembrei-me da história de uma família muito pobre que tinham dois filhos gêmeos. O sonho desses meninos era conhecer o mar porém seu pai não tinha condição financeira para levá-los. Mas, um dia, uma oportunidade surgiu. Uma viagem à trabalho para o litoral apareceu e o pai poderia levar um acompanhante. Após conversar com os filhos e explicar a situação, ficou decidido que o felizardo acompanhante seria escolhido na sorte e assim aconteceu. Regressando da viagem logo o irmão que conhecera o mar veio contar sua experiência ao que ficara: – “mano, você não vai acreditar, o mar é a coisa mais bonita que já vi! Trouxe até um pouco dele pra você ver.” Tendo dito isso, o irmão retirou do bolso um vidrinho de remédio com água do mar e, do outro bolso, uma caixinha de fósforo com areia. Então ele disse: “o mar é isso aqui… mas em maior quantidade.” Algum tempo se passou e novamente o pai iria viajar. Dessa vez quem iria o acompanhando era o outro filho que ainda não viajara. Chegou o grande dia. Finalmente ele iria conhecer o mar. Ele tinha uma noção pelas histórias contadas pelo seu irmão e pelas fotos que já havia visto em uma velha revista. Mas agora era diferente. Eles chegaram na praia. Imediatamente ele correu para a areia e começou a subir uma grande duna que o impedia de ver o mar. Até que, no alto daquele duna, sentindo a brisa sobre o rosto, ouvindo o barulho das ondas e olhando para aquele mar que se perde no horizonte ele pôde dizer: “agora eu conheço o mar com os meus próprios olhos.”
Sobre paternidade e amor de pai agora eu posso dizer: “eu vi o mar”. Sei que estou apenas no começo de uma nova e desafiadora jornada, mas após esses 14 dias sei que eu não sou mais a mesma pessoa que eu era antes dessa experiência.
Essa deve ser a parte mais triste de todo início – a exigência que alguma coisa termine. E, nesse novo início da minha vida, necessito reavaliar à luz das Escrituras Sagradas, como o Senhor deseja me conduzir. Deus nos surpreendeu mais uma vez com a sua bondade. Sei que muitas lições, aprendizados, decepções, tristezas, incertezas e medos me acompanharão ao longo dessa estrada. Mas também sei que o “Senhor guarda o peregrino” (Sl 146:9) e Ele há de me conduzir ao meu eterno e inevitável destino.
“(DEUS) Fez cessar a tormenta, e as ondas se acalmaram. Então, se alegraram com a bonança; e, assim, os levou ao desejado porto.” Salmos 107: 29.30
Vivendo no mundo
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.” I João 2:15
Meu filho não quer nascer… Minha esposa está um pouco ansiosa porque duas conhecidas que engravidaram na mesma época já estão em seus lares com seus filhos. O pior é que ainda não há nenhum sinal evidente. Não há qualquer dilatação, o bebê não desceu e o colo do útero continua grosso. Não posso condená-lo… se eu fosse ele também retardaria ao máximo a minha chegada a este mundo. Porém, descobri neste processo, que se o nenê demora demais pra sair o perigo de um aborto vai aumentado progressivamente. Não tem jeito. Mesmo que ele não queira, vai ter que sair.
Ao longo do tempo, o cristianismo tem apresentado algumas linhas de pensamento aonde se propõem definir o papel da igreja neste mundo. Gostaria de mencionar três linhas gerais:
A igreja contra cultura: de acordo com essa abordagem, o mundo é visto como ambiente hostil para a fé cristã. A igreja se apresenta como uma comunidade que recusa qualquer interação com o sistema. Essa reclusão se manifesta de várias formas como não usar roupas da moda, corte de cabelos modernos, esmalte, depilação, bens, televisão, rádio ou cinema. Eles sugerem que a vida cristã deve ser vivida em total desconexão do mundo.
A igreja na cultura: Indo para o outro extremo, muitos defendem o conceito de que o cristão tem um papel fundamental na sociedade em que se está imerso. O papel da igreja é de influenciar e trazer valores espirituais nas questões desta terra. Pensando dessa maneira, muito do que se chama de “gospel” invadiu a cultura secular: boates, filmes, pagode, danças, empresários, política e tantas outras coisas recebem uma identificação evangélica para diferenciar suas intenções, motivações e princípios. Infelizmente, a história tem demonstrado, que tem sido mais fácil o mundo profanar a Igreja do que a Igreja santificar o mundo.
A igreja e a cultura em paralelo: uma posição mais moderada propõe que o cristão deve viver uma vida civil digna e respeitosa podendo usufruir das tecnologias e comodidades que se oferecem, sem, contudo, se esquecer do seu chamamento celestial. A igreja deve esperar viver certo grau de tensão com o mundo uma vez que haverá, inevitavelmente, um choque entre os dois reinos: “o reino do mundo” e o “reino de Deus”. A igreja então vive uma luta para discernir essas duas realidades tão distintas em seus ideais e propostas. Deve-se aceitar os padrões de Deus mesmo que não sejam aceitos pelo mundo ou pela sociedade. E, em muitos momentos de opressão, deverá lembrar-se que são peregrinos e ainda não chegaram ao seu destino final.
Entender qual é o nosso papel neste mundo é fundamental para termos uma mente esclarecida que não é enganada diante de heresias camufladas em verdades bíblicas. Entendo que não fomos chamados para nos escondermos do mundo. Vivemos nesse mundo apesar de não pertencermos ao mundo: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou” (Jo 17: 15,16). Como faremos para estudar, trabalhar ou participar de uma reunião de condomínio? Devemos interagir com os incrédulos no nosso dia-a-dia como Paulo diz: diz: “refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo” (I Co 5: 10). Porém, jamais devemos nos esquecer que Jesus Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1:4) e que através da cruz de Cristo ”o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6:14).
Meu filho terá que nascer. Não irá adiantar tentar se esconder ou fugir deste mundo. Assim como todos nós, ele terá que descobrir qual é a história da humanidade e quais são as leis universais que regem esse sistema e tomar as suas decisões.
Não parece ser um caminho fácil: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne” (II Co 10:3).Entendermos que não devemos ter qualquer ambição neste mundo nos inclinará para as coisas celestiais. Se a máscara deste mundo cair veremos apenas lepra e impureza. Estaremos livres de toda aparência e engano e estaremos libertos dos grilhões deste mundo apesar de ainda vivermos nele.
“Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem;mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.” I coríntios 7: 29 – 31
Blackout
“Respondeu-lhes Jesus: Ainda por um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; e quem anda nas trevas não sabe para onde vai.” João 12:35
Recentemente trocamos as persianas do nosso quarto por uma cortina com forro de blackout (não sei se é assim que se diz). Puxa realmente funciona! Antes tínhamos o hábito de dormir com a persiana e a janela aberta de modo que o quarto, logo no inicio do dia, se iluminava. Agora, podemos fechar a janela, as cortinas e ligar o ar-condicionado e dormir o sono dos justos. Mas comecei a ter um probleminha… não consigo mais levantar no horário. Devido ao blackout perco a noção do tempo e não sei se é 06:00 ou 08:30. Toca o despertador e tenho a sensação de que deve ser umas 04:00 da manhã devido à escuridão do quarto. Dando uma rápida pesquisada descobri que todo ser humano possui um hormônio chamado melatonina que nos ajuda na regulagem do sono. Em ambientes calmos, seguros e escuros os níveis de melatonina aumentam causando sono. A luz inibe a produção da melatonina podendo gerar distúrbios no sono e insônia.
Tal situação me levou a meditar em uma das alegorias mais comuns da Palavra de Deus: Luz e Trevas relacionado com Vigilância e Sono. Vivemos uma época de densas trevas – final da noite. O mundo caído como conhecemos ainda por um pouco de tempo é regido pelo príncipe das trevas – de maneira que o“mundo inteiro jaz no maligno” (I Jô 5:12). Quando o Senhor Jesus voltar então o “Sol da Justiça” nascerá sobre toda Terra iluminando todas as situações, pessoas e coisas e dissipando as trevas: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo 1:5). E, finalmente: “Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos. Não haverá mais noite” (AP 22:5).Porém, nesse momento de tão grandes trevas, não é estranho que os peregrinos e forasteiros que aguardam dos céus a revelação do Senhor Jesus se adaptem com tanta facilidade com a negridão e passem a viver uma vida cheia das obras das trevas? “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.” Romanos 13:12
Fico pensando quais são os “blackouts” que tenho colocado em meu coração. O que tem decorado os meus pensamentos, motivação e anelos. Será que eles tem escurecido minha alma de forma a aumentar meu sono e preguiça espiritual? Como aconteceu com Pedro, será que também escutarei do meu Senhor: “Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?” (Mc 14: 37). O Senhor tem desejado encontrar, neste tempo de trevas, servos fieis que aguardam com santa e real expectativa o florescer dos primeiros raios de Sol decretando o fim dessa era. “Bendizei ao SENHOR, vós todos, servos do SENHOR, que assistis na Casa do SENHOR, nas horas da noite” (Sl 134:1).
Será que tenho caído no sono e não tenho percebido? Será que tenho vivido um terrível sonho e um dia serei abruptamente despertado pelo tocar ensurdecedor das trombetas do Rei? Se eu passo um dia sem me lembrar da promessa que Ele voltará será que isso, por si só, já não indica um estado de dormência? O que pode ser mais importante na minha vida do que a Vinda do meu Senhor?
É como diz o hino: “Desde Betânia:”
Com sua terra sonha o peregrino,
Com sua pátria, o exilado, além.
Distante, o noivo pensa em sua amada.
De amados pais, saudade os filhos têm.
Assim também anelo ver Teu rosto,
Ó meu querido e amado Salvador.
A luta contra o sono aumenta à medida que a noite vai terminando. Abra as janelas do seu coração e rasgue toda cortina carnal. Permita que a Luz Divina ilumine todo o seu quarto e te desperte de todo sono. Fique acordado para ver com seus próprios olhos as coisas que em breve hão de acontecer.
“Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor.” Efésios 5:14 – 17
Porque o mundo não pode nos conhecer
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus; e de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.” I João 3:1
“E eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou.” João 17:14
Trazer à lembrança o meu chamamento celestial é um dos maiores desafios no meu dia-a-dia. Isso porque a tendência em apegar-me às coisas visíveis é absolutamente natural. O apóstolo Paulo alerta aos romanos do perigo da mente cristã ser modelada com os princípios e o caráter mundano (Romanos 12:2).
A Bíblia retrata esse mundo de uma forma crua e sem o romantismo tão peculiar de cristãos carnais amantes das coisas caídas. Este mundo tenebroso (Ef 6:12) rejeitou seu criador: “Estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu” (João 1:10). Pior que isso, o mundo o odiou (João 15:18) amando as trevas mais do que a luz (João 3:19). O príncipe deste mundo (João 14:30) declarou guerra contra o Senhor Jesus e contra todos os seus redimidos. Quando perceberemos que estamos em um campo de batalha? Existe uma batalha ininterrupta pela minha mente, pelos meus desejos e pelo meu tempo. E, por mais que eu tente me enganar, não existe nenhuma atitude que seja neutra nessa terrível guerra pela minha vontade. Em cada segundo da minha vida, terei que optar pelo mundo ou por Deus; não há meio termo: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4).
O mundo não conheceu ao Senhor Jesus, antes matou o autor da vida (Atos 3:15). Da mesma forma, o mundo natural não pode compreender as coisas espirituais. Nós, peregrinos em terra estranha, nos movemos e falamos de coisas invisíveis para o mundo:
* Nossa pátria está nos céus (Filipenses 3:20).
* Nossa herança está reservada nos céus (I Pedro 1:4).
* Nosso chamamento é celestial (Hebreus 3:1).
* As nossas bênçãos não são materiais mas sim espirituais (Efésios 3:1).
* Estamos assentados em lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 2:6).
* A nossa luta não é contra o sangue e a carne mas contra seres invisíveis nas regiões celestiais (Efésios 6:12).
Entristeço-me quando esqueço dessas verdades. Quando procuro o amor de quem me odeia, ou pior, de quem odeia ao meu amado Salvador. Quando tento transformar esse lugar de batalha em um lar agradável para minha habitação. Quando eu me torno indolente na luta incessante de resgatar e salvar vidas da condenação que virá sobre toda esta terra. Quando faço concessões ao príncipe deste mundo em detrimento às ordenanças do Príncipe da Paz.
Hoje, o mundo não pode nos conhecer. Mas chegará o tempo em que o Senhor Jesus tomará de volta o que lhe foi usurpado pelo Diabo. Naquele dia, “a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2:14). Os povos e as nações se prostrarão em reverência ao único e verdadeiro Rei desta terra.
Podem esperar. Esse dia não tarda em chegar.
“O Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia um só será o Senhor e um só será o seu nome.” Zacarias 14:9