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Herança

maio 27, 2010 0 comentários

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele.” Provérbios 22:6

Nesse último “dia das mães” não me encontrei com a minha mãe. Havia programado de vê-la no final do dia mas um congestionamento na estrada e uma febre inesperada impediram a visita. Após desligar o telefone avisando-a do infortúnio viajei no tempo e levei meus pensamentos até à minha infância junto à minha mãe. Fui uma criança muito amada por meus pais e minha avó – sim, sou caçula criado com vó – daqueles que tomava leite quente no verão e nunca andava descalço. Tenho ótimas lembranças da minha infância e dos meus pais porém é a piedade da minha mãe que hoje chama a minha atenção.

Em uma caixinha de madeira de sabonetes Phebo minha mãe guardava vários cartões com versículos bíblicos. Na parte da frente constava a referência e no verso o texto por escrito. Muitas vezes eu a ajudava no seu “treinamento” passando e repassando os inúmeros versículos que ela memorizava. Fazíamos o “cultinho doméstico” aonde tínhamos que orar, decorar versículos e ler alguma história juntos. Lembro-me também da bíblia da minha mãe toda marcada e cheia de anotações companheira inseparável de todas as suas manhãs. Todas as terças-feiras ela levava o estudo para a “reunião das irmãs” da Igreja Batista aonde ela se reúne até hoje. Sempre andava com folhetos evangelísticos de maneira que passei a minha infância ouvindo-a falar do amor inefável de Deus e da inacreditável salvação que o homem recebe pela fé em Jesus Cristo, gratuitamente. Até meus coleguinhas de escola não escapavam da pregação, oração e das músicas que cantávamos dentro do carro enquanto íamos para a aula. Não posso deixar de mencionar minha saudosa avó que, até meus 12 anos foi minha companheira de quarto. Uma das cenas mais constantes da minha infância, era acordar de manhã e ver minha avó ajoelhada ao pé da cama orando.

Após tantos anos fiquei surpreso de me lembrar desses fatos. Eles estavam perdidos na minha memória porém não no meu caráter. A vida e o exemplo espiritual de minha mãe sempre estiveram em rota de colisão com a cultura e a mensagem do mundo. Como conseqüência, a presença de Deus cristalizou-se em meu coração ainda na infância de maneira que, quando cheguei às crises da adolescência, minha fé permaneceu firme diante das incertezas e tentações. O testemunho maternal e um lar que temia ao Senhor (o exemplo dos meus irmãos merece um outro pensamento) contribuiu para a posterior conversão de meu Pai e para talhar em meu coração princípios que me acompanharão até o meu último suspiro de vida.

Diante da aproximação do nascimento de meu filho é natural que eu construa alguns modelos para o que eu considero ser “o ideal de um pai” porém não posso me submeter ao ideal do mundo mas sim ao ideal divino. Claro que quero dar pra ele o melhor de tudo: educação, esporte, lazer, cultura, moradia, roupa, etc. Mas pensando bem essas coisas não possuem valor eterno, elas são tão efêmeras quanto superficiais. O que o meu filho precisa é de que eu ame ao Senhor de todo o meu coração. De que a minha vida seja inteiramente consagrada a Deus de tal maneira que ele sinta, ouça e veja a Deus através da minha experiência até chegar ao momento em que ele sinta, ouça e veja a Deus na sua própria experiência.

Neste “dia das mães” pude perceber que, para uma criança, as atitudes falam muito mais alto do que qualquer discurso e que não existe nada mais didático do que o exemplo. Trazer Deus para o meu dia a dia foi o melhor legado que minha mãe me deixou e essa será a maior herança que desejo deixar para o meu filho.

“No temor do Senhor tem o homem forte amparo, e isso é refúgio para os seus filhos.” Proverbios 14:26

 

 

Aflições de uma gestação

abril 7, 2010 0 comentários

“Meus filhos por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” Gálatas 4:19

A mais importante e revolucionária noticia do ano para a minha casa é a chegada do meu primeiro filho previsto para Outubro. Eu e minha flor estamos muito felizes com a possibilidade de experimentarmos uma nova etapa da nossa peregrinação sobre esse mundo. A possibilidade de sermos progenitores de uma pessoa que nos será confiada pelo próprio Deus nos enche de temor mas de muita alegria também. Só que junto com a novidade vieram também os enjôos, o mal-estar, os vômitos, o cansaço, a fraqueza e a fragilidade. Dando uma rápida pesquisada descobri que tais fatores são bastante comuns nas grávidas e que tais situações acontecem devido às mudanças internas ocasionadas pela nova vida que está surgindo.

Passando por essa experiência pude refletir um pouco mais na figura que a Bíblia usa do nosso processo de santificação. Jesus Cristo, não é apenas o Emanuel “Deus entre nós” mas, através da obra do Calvário, Ele também é o “Deus em nós”: “assim habite Cristo em vossos corações, pela fé” (Ef 3:17), “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20), e “Cristo em nós é a esperança da glória” (Cl 1:27). E, assim como acontece com a grávida, a formação de Cristo em nós poderá nos levar a passar por algumas aflições, enjôos, desânimos e fraquezas mas todo esse processo tem como objetivo nossa santificação. Mais de Cristo menos de nós mesmos: “convém que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3:30).O apostolo Paulo menciona que, assim como uma grávida, sofria de dores de parto até que Cristo fosse plenamente formado nos gálatas. Também aos Colossenses, Paulo afirma que ainda existia a necessidade de preencher “o resto das aflições de Cristo na minha carne, a favor do seu Corpo que é a igreja;” (Cl 1:24).

Confesso que essa figura me espanta. O próprio Deus habita em mim e, assim como acontece com uma gestante, eu tenho que passar por algumas aflições para que a Sua vida se desenvolva perfeitamente transformando completamente o meu interior. Oh! Quão urgente é, compreendermos que essas aflições são necessárias para a nossa santificação! . Sabemos que outros desafios ainda virão e todos fazem parte das aflições que uma gestação proporciona. Percebi um fato interessante: ao longo desses mais de dez anos de casamento não me recordo de ter visto minha esposa tão abatida e esgotada por tanto tempo, porém, paradoxalmente, ela tem mantido uma alegria incontida, um sentimento de que toda essa situação tem um propósito. Cada vez que a Kezia saía do banheiro com a cara pálida, olheiras profundas, cabelo desgrenhado e aspecto abatido ela trazia um sinal não de morte mas de vida. Existia um testemunho silencioso de que esse processo é necessário para que haja também o nascimento de um bebê. Ela sabe que no final dessa história todo esse incômodo terá valido a pena. Penso que seja esse o pensamento paradoxal de Paulo quando ele disse: “ como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos;entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (II Co 6:9-10). Apesar das aflições geradas pela vida de Cristo dentro de nós, um sentimento profundo de paz se ergue no espírito daqueles que tem permitido esse trabalho divino no seu interior.

Um dia todo esse processo terminará. Cristo será tudo em todos. Além de ser exaltado nos céus e coroado na terra Ele, finalmente, terá sido formado plenamente em nós.

“A mulher quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza, mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.” João 16: 21,22